TUDO SOBRE OS FUNGOS DOS QUEIJOS DA CANASTRA
A Serra da Canastra é mundialmente reconhecida pela excelência de seus queijos artesanais. Vamos explorar um componente fascinante e, por vezes, mal compreendido desses queijos: os fungos comestíveis. Longe de serem um defeito, esses micro-organismos desempenham um papel crucial na maturação, sabor e aroma dos queijos da Canastra. Abordaremos os diferentes tipos de queijos da região onde esses fungos se manifestam, destacando a importância cultural e econômica dessa simbiose natural.

Queijos Artesanais: Uma Simbiose Natural
Nos queijos artesanais da Serra da Canastra, a maturação é um processo complexo e fascinante, onde os fungos se desenvolvem naturalmente, estabelecendo uma simbiose com o queijo. Esse desenvolvimento não é aleatório; ele é influenciado pelas condições ambientais únicas da região, como a temperatura e a umidade, que proporcionam um ambiente ideal para o crescimento fúngico. A temperatura amena e a umidade controlada nas caves de maturação favorecem a proliferação de espécies benéficas, enquanto inibem o crescimento de micro-organismos indesejáveis.
É importante desmistificar a ideia de que a presença de fungos em queijos artesanais é um sinal de deterioração ou falta de higiene. Pelo contrário, a presença de fungos específicos é um indicativo de que o processo de maturação está ocorrendo de forma adequada, contribuindo para o desenvolvimento de sabores e texturas complexas. Estudos têm demonstrado consistentemente a segurança e os benefícios dos fungos presentes nesses queijos, destacando suas propriedades probióticas e sua capacidade de produzir compostos aromáticos que enriquecem o perfil sensorial do produto final. A simbiose entre o queijo e os fungos é, portanto, um processo natural e essencial para a criação de um produto único e de alta qualidade.

Tipos de Fungos Comestíveis Encontrados nos Queijos da Canastra
A diversidade de fungos comestíveis encontrados nos queijos da Serra da Canastra é notável, com diferentes gêneros e espécies desempenhando papéis distintos na maturação e no desenvolvimento do sabor. Entre os mais comuns, destacam-se os fungos do gênero Penicillium, conhecidos por sua capacidade de produzir enzimas que quebram proteínas e gorduras, gerando compostos aromáticos complexos. Outro gênero frequentemente encontrado é o Geotrichum, que contribui para a formação da casca do queijo e para o desenvolvimento de notas sutis de sabor.
Cada tipo de fungo apresenta características visuais, olfativas e gustativas únicas. Os fungos do gênero Penicillium, por exemplo, podem apresentar uma coloração branca ou azulada, enquanto os do gênero Geotrichum geralmente formam uma camada cremosa e esbranquiçada na superfície do queijo. Em termos de sabor, alguns fungos podem adicionar notas terrosas e amadeiradas, enquanto outros conferem um toque picante ou amanteigado. A identificação precisa desses fungos requer técnicas de microscopia e macroscopia, permitindo aos queijeiros monitorar a qualidade e a segurança de seus produtos.
O Papel dos Fungos na Maturação e no Sabor do Queijo
Os fungos desempenham um papel multifacetado e essencial na maturação dos queijos da Serra da Canastra. Sua atuação vai além da simples presença, envolvendo uma série de processos bioquímicos que transformam a massa original em um produto de sabor e textura complexos. A principal função dos fungos é a quebra de proteínas e gorduras, um processo conhecido como proteólise e lipólise, respectivamente. Durante a proteólise, as proteínas são quebradas em peptídeos e aminoácidos, que contribuem para o desenvolvimento de compostos aromáticos voláteis. Da mesma forma, a lipólise quebra as gorduras em ácidos graxos livres, que também influenciam o sabor e o aroma do queijo.
O tempo de maturação é um fator determinante no desenvolvimento dos fungos e, consequentemente, na intensidade do sabor do queijo. Quanto maior o tempo de maturação, maior a proliferação dos fungos e mais intensos os processos de proteólise e lipólise. Isso resulta em um queijo com sabores mais complexos e pronunciados, com notas que podem variar de terrosas e amadeiradas a picantes e amanteigadas. A comparação com queijos de outras regiões, como o Brie e o Camembert, que também utilizam fungos na maturação, revela a importância desse processo na obtenção de produtos com características sensoriais únicas.

Benefícios Nutricionais dos Fungos Comestíveis
Além de contribuírem para o sabor e aroma dos queijos da Serra da Canastra, os fungos comestíveis presentes nesses produtos também oferecem benefícios nutricionais significativos. Os fungos são uma fonte rica em proteínas, vitaminas e minerais, além de conterem compostos bioativos com propriedades antioxidantes e anti-inflamatórias. A presença de fungos nos queijos aumenta o valor nutricional do produto, tornando-o uma opção ainda mais saudável e saborosa.
Os fungos são particularmente ricos em vitaminas do complexo B, como a riboflavina (B2), a niacina (B3) e o ácido pantotênico (B5), que desempenham um papel importante no metabolismo energético e na saúde do sistema nervoso. Além disso, os fungos contêm minerais essenciais, como o selênio, o potássio e o fósforo, que contribuem para a saúde óssea, a função muscular e o equilíbrio eletrolítico. Alguns estudos também sugerem que os fungos podem ter propriedades prebióticas e probióticas, contribuindo para a saúde intestinal ao promover o crescimento de bactérias benéficas no intestino.
A comparação dos benefícios nutricionais dos queijos com e sem a presença dos fungos revela que os queijos com fungos tendem a ter um teor ligeiramente maior de proteínas e vitaminas, além de apresentarem uma maior diversidade de compostos bioativos. Esses compostos podem ter propriedades antioxidantes, ajudando a proteger as células do corpo contra os danos causados pelos radicais livres, e propriedades anti-inflamatórias, que podem contribuir para a prevenção de doenças crônicas. Ao consumir queijos da Serra da Canastra com fungos, os consumidores podem desfrutar de um produto saboroso e nutritivo, que oferece benefícios tanto para o paladar quanto para a saúde.

Harmonização e Degustação
A degustação dos queijos da Serra da Canastra é uma experiência sensorial que envolve todos os sentidos. Para apreciar plenamente a complexidade dos sabores e aromas desses queijos, é importante seguir um roteiro de degustação que começa com a observação da aparência do queijo, incluindo a coloração da casca e da massa, a textura e a presença de fungos. Em seguida, deve-se cheirar o queijo, buscando identificar os diferentes aromas, como notas terrosas, amadeiradas, picantes ou frutadas. Por fim, deve-se provar o queijo, prestando atenção à textura, ao sabor e ao aftertaste.
A harmonização dos queijos com diferentes tipos de bebidas e acompanhamentos pode realçar ainda mais os sabores do queijo. Os queijos da Canastra, por exemplo, harmonizam bem com vinhos tintos encorpados, cervejas artesanais do tipo Ale e cachaças envelhecidas. Em termos de acompanhamentos, geleias de frutas vermelhas, frutas secas, pães artesanais e azeite extra virgem podem complementar os sabores do queijo, criando uma experiência gastronômica equilibrada e prazerosa. Para obter dicas de harmonização e degustação, pode-se consultar especialistas em queijos e chefs de cozinha, que podem oferecer sugestões valiosas para explorar os sabores dos queijos da Canastra.
Preservação da Tradição e Sustentabilidade
A preservação da tradição queijeira da Serra da Canastra é fundamental para garantir a continuidade da produção de queijos artesanais de alta qualidade. Apoiar os produtores locais, consumindo seus produtos e divulgando sua história e cultura, é uma forma de contribuir para a preservação dessa tradição. Além disso, é importante incentivar a adoção de práticas sustentáveis de produção, que respeitem o meio ambiente e a biodiversidade local. Essas práticas incluem o manejo adequado do solo e da água, o uso de energias renováveis, a redução do desperdício de alimentos e o bem-estar animal.
Os desafios para o futuro da produção de queijos artesanais na Serra da Canastra são muitos, incluindo a competição com os queijos industrializados, a falta de infraestrutura adequada e as dificuldades de acesso ao mercado. No entanto, as perspectivas são promissoras, com o crescente interesse dos consumidores por produtos artesanais, autênticos e sustentáveis. Para superar esses desafios, é necessário o apoio do governo, das instituições de pesquisa e das organizações da sociedade civil, que podem oferecer assistência técnica, capacitação, financiamento e apoio à comercialização.
O consumo consciente e a valorização dos produtos locais são essenciais para garantir a sustentabilidade da produção de queijos artesanais na Serra da Canastra. Ao escolher consumir queijos produzidos de forma sustentável e por produtores locais, os consumidores contribuem para a preservação da tradição queijeira, a proteção do meio ambiente e o desenvolvimento econômico da região.